terça-feira, 13 de outubro de 2015

Misericórdia

Ah, Misericórdia! Cura essa miséria de meu coração.
Consagrado em ilusões,
somente seu brilho
retira de mim esse semblante de desgosto e asco.
O corpo, aqui, é o resto do que já fora – amanhã, menos ainda;
Então lhe peço que traga sua seiva
doce e quente
para travestir minhas angústias, pois assim permaneço vivo:
Se, ao me ver, só enxergar um vago espectro na fumaça
saberá que, se isso existe,
é nisso que resta meu gozo.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Luta de gigantes acerca de um vazio

Alguma voz oculta sussurra em meus ouvidos
para que deixe pra trás as mágoas.
Mas, em uma vida cheia de enganos
em que nada há à se apegar, onde mais poderia
firmar meus pés, senão nessas lembranças desventurosas
de farsas construídas em brilhos de ouro?
Uma breve claridade oblíqua invade meu quarto
mas não ousa mais penetrar luz neste coração ferido
por uma luta de gigantes a cerca de um vazio. 

terça-feira, 10 de março de 2015

Últimos dias de um verão.

O que foi que eu fiz?
Ainda me amarguro, sabendo o quão mesquinho fui.
Os dias chuvosos só refletem o que há dentro de mim;
E se ocorrer de algum raio de sol surgir logo mais,
fugirei imediatamente para banhar-me nele,
já que não sei quando haverá outro
antes das próximas duas estações.
Um vento úmido habitou meu corpo
no momento em que nos distanciamos.
Agora, sem choro nem vela,
devo despojar-me de toda vaidade
e rasgar esse véu imundo, pois, sendo o réu
aguardo insuportavelmente a minha penitência.
O que foi que eu fiz?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Falásia

Ainda em meu quarto escuro
levanto-me antes de você e te olho
dormindo ao meu lado – o sublime e a danação
conjurados no mesmo corpo sedoso como o pecado.
Lavo meu rosto desconsolado,
me torno as ruínas de um sentimento doloroso:
Nada brota mais nesse solo, infértil e agourado
pelas más línguas, a não ser ervas daninhas.
Faço um café pra nós dois e, antes que acorde,
novamente já não serei mais eu ao seu lado.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Simbiose

A distância aguça minha má vontade
e, longe de você, perco meus risos de criança arteira;
Então, em fraqueza
reduzo-me à lágrimas, que não consigo segurar.
Ah! como me sinto menor,
como um fogo que fada diante da escuridão:
ausente de teu corpo gostoso,
a saudade lixa meu peito,
que esperneia a amputação – sem ti, perco o outro lado de mim. 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Mais um dia de chuva

Mais um dia amanhasse chuvoso em mim
e nada posso contra esse sentimento destrutivo:
Não quero ser, sem você.
Acendo mais um cigarro,
trago fumaça amarga e assopro só saudade – por quê a dor
não se evapora junto?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Cinzas no prato em que comi.

Quando percebi, somente havia crescido
 a sombra atrás de mim;
As cinzas que bati, permanecem no prato em que comi.
Uma vítima que permaneceu como infratora – A acusação: Culpa.
Ah! Com nossos corpos desnutridos de vontade
já não queremos mais um ao outro, mas o tédio desolador
nos forçou ainda, diante da inexistência inevitável, à lassidão e volúpia:
Qual agora nossa escapatória senão sermos escravos do remorso?
Cinzas no prato em que comi.